sábado, 27 de julho de 2013

Sobre o acordo do Fluminense com o Maracanã, parte II

Maracanã no jogo Fluminense x Vasco, 21/07/2013.

Após minhas duas primeiras postagens sobre o acordo do Fluminense com o Maracanã (aqui e aqui), houve muitas reações, umas favoráveis, outras contrárias ao meu posicionamento. Agora, passado o primeiro jogo (Fluminense 1 x 3 Vasco, cujo borderô analisei aqui) e já com vendas abertas para o segundo jogo (Fluminense x Cruzeiro, na quarta-feira 31), é a hora de novas reflexões.

Na minha visão, já explicada nos posts anteriores, o Fluminense adotou uma postura muito cautelosa: assinou um contrato que minimiza o risco de prejuízos. Dito assim, parece bom, mas será que é mesmo? Não acho, e explico. Em Economia, risco reduzido implica automaticamente em ganhos também reduzidos. Você não espera ganhar muito investindo suas economias na poupança, aplicação de risco nulo. Se você deseja ganhar muito, parte para o mercado de ações, onde o risco é elevado, mas também as possibilidades de ganho são maiores.

O Flamengo, por exemplo, assinou outro tipo de contrato, rachando 50% de despesas e receitas (incluindo bares, camarotes, estacionamento e placas de publicidade). Para cada real arrecadado no estádio, 50 centavos irão para o Flamengo, e 50 centavos irão para o Complexo Maracanã (da mesma forma, para cada real gasto, 50 centavos o Flamengo paga, 50 centavos o Complexo paga). O Flamengo se arriscou mais, pode ter prejuízo em alguns jogos, mas tem maiores possibilidades de ganho. Em suma: ao passo que o Fluminense está apostando no próprio fracasso, o Flamengo está apostando no sucesso. Nem preciso dizer com qual postura eu concordo, vocês que me leem já devem conhecer meu otimismo... Não, eu não acho o contrato do Flamengo bom, pois considero que o protagonista do espetáculo merece mais do que metade da renda. Mas comparado com o "contrato risco zero" do Fluminense, o acordo rubro-negro me parece um negócio da China. (Ah, um detalhe importante: o Flamengo assinou por apenas seis meses, fazendo um período de testes, sem se comprometer. O Fluminense assinou por 35 anos - período que engloba 12 gestões do clube.)

"Ah, PC, mas o Fluminense não vai ter prejuízo nunca, mesmo nos jogos vazios, pois não terá despesas com o estádio!".

Aqui, cabem algumas considerações. Antes de mais nada, o acordo não é exatamente "despesa zero". No borderô do jogo contra o Vasco (analisado aqui), fica claro que o Fluminense teve despesas de R$ 213.935,48. (Para efeito de comparação: no mesmo borderô, se vê que as despesas do Complexo Maracanã ficaram em R$ 49.640,67.) Portanto, esqueçam a falácia de que é impossível um jogo dar prejuízo para o Fluminense no Maracanã: pode acontecer, sim.

Uma outra consideração: de fato, no atual calendário, o Fluminense tem uma penca de jogos ridículos para mandar, especialmente pelo Campeonato Carioca. Nesses jogos, o público é inevitavelmente baixo, e aí de fato o Fluminense fica protegido de grandes prejuízos, com o contrato de baixo risco. Entretanto, ao invés de se adequar ao triste cenário, que tal lutar para modificá-lo? A realidade pode mudar. O Fluminense tem força suficiente para liderar um movimento pela racionalização do calendário, diminuindo muito a quantidade de jogos sem apelo. Ao invés de "jogar peladas sem ter prejuízo", que tal "não jogar peladas"?

Repito: o Fluminense assinou por 35 anos. Será que, nesse período, as coisas já não terão mudado? O Campeonato Carioca já não terá deixado de ser a piada que é hoje em dia? A média de público não terá se elevado? (Nesse ponto, destilo otimismo: aposto, sim, que as novas arenas do futebol brasileiro farão com que as médias de público melhorem consideravelmente e voltem aos patamares da década de 70, quando o Fluminense chegou a ter média superior a 40 mil pagantes por jogo. O aumento da média de público aconteceu em todos os países que modernizaram seus estádios - principalmente na Inglaterra. Por que achar que aqui não acontecerá? Ainda mais aqui no Rio de Janeiro... O povo carioca gosta do Maracanã, e agora que o estádio recebe seus torcedores dignamente, como clientes e não como gado, vejo mesmo uma evidente tendência de aumento das médias de público.)

Eu postaria aqui simulações de cenários hipotéticos de jogos com público baixo, médio e elevado, mas são tantas as variáveis envolvidas que tudo não passaria de um grande exercício de "chutologia". Preferirei fazer as análises conforme os jogos forem acontecendo.

Em tempo: as perguntas feitas no post da análise do borderô de Fluminense x Vasco seguem sem resposta. A parte não computada da renda do jogo e os mais de 12 mil não-pagantes ainda não foram explicados pela diretoria do Fluminense.

Por fim, faço um elogio à escolha dos preços dos ingressos para Fluminense x Cruzeiro: 40 reais, com meia-entrada a 20. A diminuição dos preços veio mais rapidamente que nos últimos anos. Finalmente, alguém no Fluminense teve bom senso, ao contrário do que acontecia na "Era Engenhão", quando a política de preços elevados era mantida mesmo depois de comprovadamente fracassada. Levando-se em conta o péssimo horário da partida (quarta-feira, 19:30 - cedo demais), a redução dos preços certamente contribuirá para o aumento do público pagante da partida.

PCFilho

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